Hora de brincar um pouco com Sex and The City. Eu sempre gostei muito da ideia de fazer uma coluna contando as peripécias sexuais de meus amigos, que não são poucas, por sinal. Quando se fala sobre sexo, forçosamente se fala sobre relacionamentos e pessoas e tendências. Então, vamos ver como seria. Criei essa coluna fictícia, mas baseada em fatos reais. A maioria dos rolos, relações e personalidade dos personagens são reais (aconteceram com meus amigos, e algumas comigo), mas omiti os nomes para não dar dor de cabeça para ninguém.
Foi uma
típica cena de filme, pelo que ele me contou. O encontro casual na biblioteca,
o bate-papo descontraído, as tiradas inteligentes, a saída apoteótica e a
promessa de novos encontros. Estava tudo
ali. A receita cinematográfica do início de um bom relacionamento. Muito
impressionante para um cara de vinte anos que ainda achava que podia controlar
sua vida como um roteiro de cinema.
- Conheci
meu cara da biblioteca – meu amigo me disse, em uma das nossas reuniões para
beber e falar besteira.
- Que cara
da biblioteca?
- O Cara da
Biblioteca. Aquele que eu encontro, bato um papo, mostro como sou inteligente e
nos apaixonamos loucamente. Igual nos filmes.
- E vai dar
certo? – eu perguntei, desconfiado.
- Com
certeza.
E com isso
decretado, ele começou o tortuoso caminho que os levaria a cama. As conversas, os sorrisos bonitos, as mãos
que tocavam, o agarramento nos banheiros, os “pode ser” e os “não pode ser”.
Até que enfim, veio o convite para o “almoço”.
- Ele me
convidou para almoçar na casa dele amanhã – ele disse. –O que é que eu faço?
- Ué, vai. –
eu disse.
- Você não tá entendendo. Não sei como funciona com os héteros, mas para os gays, um
convite para almoçar em casa significa que só a sobremesa será servida. Ele estava me chamando para transar, e eu
fiquei nervoso. Ainda acha que devo ir?
Primeiro, eu não sabia desde quando ele se
tornara tão pudico; segundo, como é que podia dar uma opinião àquele respeito.
Parece que estava falando com um carinha do arco da velha que achava que um
contanto físico mais intimo era, obrigatoriamente, um sinal de compromisso
sério.
Prometi que
daria a reposta no outro dia e corri para receber uma amiga que havia acabado
de chegar de viagem. Ela estava naquelas de não acreditar no amor, vendo filmes
europeus e lendo literatura séria.
- Transei
com Meu Japonês? – ela me disse.
- Que
japonês?
- O das
minhas fantasias.
Ela era
tarada por orientais em geral, tarada mesmo. Era vidrada nos olhinhos, nos
cabelinhos, em como eles eram bonitinhos e tudo mais. Não me surpreendi muito
ao vê-la voltar feita da viagem, afinal ela foi para se divertir. Mas os
detalhes me deixaram orgulho.
Ela
conhecera o cara num passeio pela cidade. Ele tinha parado para pedir uma
orientação, uma forma de chegar junto descarada, e depois partiu lançando os
olhares e sorrisos bonitos. Eles se encontraram em uma festa mais a noite e não
demoraram nada para se encontrarem num apartamento.
- A gente
fez sexo em todos os cômodos da casa – ela me disse com um sorriso.
- E quando é
que vocês vão se ver de novo?
- Não vamos.
Não quero compromisso sério.
Enquanto ela
me contava mais sobre a viagem fiquei pensando na repulsa pelos “compromissos
sérios”. Nunca vi nenhum problema em escolher alguém e ficar junto, dividir as
coisas, comer brigadeiro e assistir ao Chaves. Não parecia um suplício ou uma
prisão, mas exigia coragem. Para alguns era quase como enfrentar um monstro. O
terrível monstro da Falta de Personalidade. Pode até parecer incompreensível,
mas é só dedicar um tempo ao assunto para ver que tudo faz sentido. É um medo
irracional, mas extremamente pungente. O momento onde, a literatura romântica,
fala que dois se tornam um. E isso, só isso, já parece algo saído de um filme
de terror. Dois se tornam um, o que é isso? Um tipo de mutação estranha. O tipo
de compromisso que se vê hoje em dia chega perto da psicose. É um que fiscaliza
o e-mail do outro, outra que não deixa que fulana seja amiga do namorado no Facebook, outro que fiscaliza as mensagens de celular. Medo. Tipo, Glenn Close total.
Num mundo onde as relações parecem cada vez mais distantes,
quando você assume um compromisso com alguém, faz de tudo para mantê-lo. E isso
coloca o casal numa redoma de vidro, faz com que um queria se igualar ao
outro, afastar os amigos. É triste como uma relação que devia ser de
cumplicidade e harmonia se transforma numa relação de dependência total. É
preciso saber lidar e contornar todas essas coisas, e isso exige tempo e
paciência. E quem tem tempo e paciência hoje em dia?
- Nós
“almoçamos” – meu amigo disse no outro dia.
- Legal. E
aí?
- Não vai rolar.
- Por quê?
Ele parou
para pensar. Demorou demais. Estava inventando uma mentira, qualquer coisa para
não ter que dizer que tinha ficado com medo de, enfim, enfrentar o Monstro do
Relacionamento Sério.
- Ele não
usa cueca boxer.
Eu fingi que
acreditei.
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