domingo, 21 de outubro de 2012

Coluna: Sexo a 5 - Compromisso

Hora de brincar um pouco com Sex and The City. Eu sempre gostei muito da ideia de fazer uma coluna contando as peripécias sexuais de meus amigos, que não são poucas, por sinal. Quando se fala sobre sexo, forçosamente se fala sobre relacionamentos e pessoas e tendências. Então, vamos ver como seria. Criei essa coluna fictícia, mas baseada em fatos reais. A maioria dos rolos, relações e personalidade dos personagens são reais (aconteceram com meus amigos, e algumas comigo), mas omiti os nomes para não dar dor de cabeça para ninguém. 


Foi uma típica cena de filme, pelo que ele me contou. O encontro casual na biblioteca, o bate-papo descontraído, as tiradas inteligentes, a saída apoteótica e a promessa de novos encontros.  Estava tudo ali. A receita cinematográfica do início de um bom relacionamento. Muito impressionante para um cara de vinte anos que ainda achava que podia controlar sua vida como um roteiro de cinema.

- Conheci meu cara da biblioteca – meu amigo me disse, em uma das nossas reuniões para beber e falar besteira.
- Que cara da biblioteca?
- O Cara da Biblioteca. Aquele que eu encontro, bato um papo, mostro como sou inteligente e nos apaixonamos loucamente. Igual nos filmes.
- E vai dar certo? – eu perguntei, desconfiado.
- Com certeza.

E com isso decretado, ele começou o tortuoso caminho que os levaria a cama.  As conversas, os sorrisos bonitos, as mãos que tocavam, o agarramento nos banheiros, os “pode ser” e os “não pode ser”. Até que enfim, veio o convite para o “almoço”.

- Ele me convidou para almoçar na casa dele amanhã – ele disse. –O que é que eu faço?
- Ué, vai. – eu disse.
- Você não tá entendendo. Não sei como funciona com os héteros, mas para os gays, um convite para almoçar em casa significa que só a sobremesa será servida.  Ele estava me chamando para transar, e eu fiquei nervoso. Ainda acha que devo ir?

Primeiro, eu não sabia desde quando ele se tornara tão pudico; segundo, como é que podia dar uma opinião àquele respeito. Parece que estava falando com um carinha do arco da velha que achava que um contanto físico mais intimo era, obrigatoriamente, um sinal de compromisso sério.

Prometi que daria a reposta no outro dia e corri para receber uma amiga que havia acabado de chegar de viagem. Ela estava naquelas de não acreditar no amor, vendo filmes europeus e lendo literatura séria.

- Transei com Meu Japonês? – ela me disse.
- Que japonês?
- O das minhas fantasias.

Ela era tarada por orientais em geral, tarada mesmo. Era vidrada nos olhinhos, nos cabelinhos, em como eles eram bonitinhos e tudo mais. Não me surpreendi muito ao vê-la voltar feita da viagem, afinal ela foi para se divertir. Mas os detalhes me deixaram orgulho.

Ela conhecera o cara num passeio pela cidade. Ele tinha parado para pedir uma orientação, uma forma de chegar junto descarada, e depois partiu lançando os olhares e sorrisos bonitos. Eles se encontraram em uma festa mais a noite e não demoraram nada para se encontrarem num apartamento.

- A gente fez sexo em todos os cômodos da casa – ela me disse com um sorriso.
- E quando é que vocês vão se ver de novo?
- Não vamos. Não quero compromisso sério.

Enquanto ela me contava mais sobre a viagem fiquei pensando na repulsa pelos “compromissos sérios”. Nunca vi nenhum problema em escolher alguém e ficar junto, dividir as coisas, comer brigadeiro e assistir ao Chaves. Não parecia um suplício ou uma prisão, mas exigia coragem. Para alguns era quase como enfrentar um monstro. O terrível monstro da Falta de Personalidade. Pode até parecer incompreensível, mas é só dedicar um tempo ao assunto para ver que tudo faz sentido. É um medo irracional, mas extremamente pungente. O momento onde, a literatura romântica, fala que dois se tornam um. E isso, só isso, já parece algo saído de um filme de terror. Dois se tornam um, o que é isso? Um tipo de mutação estranha. O tipo de compromisso que se vê hoje em dia chega perto da psicose. É um que fiscaliza o e-mail do outro, outra que não deixa que fulana seja amiga do namorado no Facebook, outro que fiscaliza as mensagens de celular. Medo. Tipo, Glenn Close total. 

Num mundo onde as relações parecem cada vez mais distantes, quando você assume um compromisso com alguém, faz de tudo para mantê-lo. E isso coloca o casal numa redoma de vidro, faz com que um queria se igualar ao outro, afastar os amigos. É triste como uma relação que devia ser de cumplicidade e harmonia se transforma numa relação de dependência total. É preciso saber lidar e contornar todas essas coisas, e isso exige tempo e paciência. E quem tem tempo e paciência hoje em dia?

- Nós “almoçamos” – meu amigo disse no outro dia.
- Legal. E aí?
- Não vai rolar.
- Por quê?

Ele parou para pensar. Demorou demais. Estava inventando uma mentira, qualquer coisa para não ter que dizer que tinha ficado com medo de, enfim, enfrentar o Monstro do Relacionamento Sério.

- Ele não usa cueca boxer.

Eu fingi que acreditei.

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