quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Coluna Sexo a 5: Ruim de Jogo


Eu não estava fazendo nada numa sexta-feira à noite quando Charles me chamou para sair. Eu não queria ir, estava na época em que aproveitava o “nadismo”. Não fazia nada, e não importava. Mas ele continuou dizendo que ia ser legal, era um novo bar gay e ele queria conhecer e não queria ir sozinho, e foi falando e falando...

- Tá bom, eu vou. Saco.

Nos encontramos em frente ao bar, só que não era um bar. Era uma balada.

- Você falou que era um bar – eu disse.
- Mas é um bar.
- Não é uma boate.
- Ninguém mais fala "boate".

Nós entramos.

Eu não gosto muito boate ou seja  lá o nome que tem hoje. Sempre tem muita gente, muitos "u-huus", e pouco espaço. Não era bem o caso aqui. Não porque o lugar era grande, mas porque estava meio vazio.

- Isso aqui não devia estar cheio? – eu perguntei.
- Vai encher. Relaxa.

Então nós pegamos uma mesa. Conversamos. Charles tinha acabado de contar para a gente que era gay. Ele tinha passado por poucas e boas antes disso, até a aceitação. Era como se ele tentasse transformar o fato de ser gay na coisa mais degradante que podia, para assim poder tentar deixar de ser. Deu para entender? Mas foi isso, tivemos que falar com ele, dar força e tudo mais. Agora ele estava bem. Meio confuso, mas bem.

- Tá pegando alguém? – eu perguntei.
- Algumas possibilidades. Eu não tô me sentindo cem por cento confiante.
- Por que não?
- Eu acho que eu sou ruim de jogo.
- O quê?
- Ruim de jogo, você sabe, não sei bem chegar nos caras, sou meio envergonhado.

Estranho, eu pensei. Ele tinha feito um monte de coisas que não tinham a vergonha como pré-requisito, mas ainda assim, era uma época que ele estava meio louco. E ele continuou dizendo como era um fracasso nisso de chegar junto e tal e tal, e eu pensei: Será que eu sou ruim de jogo?

Enquanto eu me debatia filosoficamente, Jennyfher estava indo encontrar com uma amiga num bar. Jennyfher e eu éramos amigo há algum tempo já, mas ela continuava me surpreendendo. Ela tinha um namorado, e os dois não iam muito bem. Desde que eu a conhecia eles não iam muito bem. Ela me contou depois, muito rapidamente, que eles tiveram uma briga boba naquela noite (que ela provocou, eu tenho certeza), e ela precisou sair para se distrair.

Ela foi para um desses bares country e lá encontrou a amiga numa mesa cheia. Ela bebeu, e bebeu. E como mel atrai formiga, Jennyfher atrai homem. É simples assim. E na conversa vai, conversa vem, ela já tinha alguém com quem passar a noite. Rápido assim.

Charles me arrastou para a pista quando a balada encheu um pouco mais. A gente estava dançando quando eu percebi um cara olhando para ele. Ele via, e fingia que não via.

- O cara está olhando pra você – eu disse. Ele nem se virou.
- Claro que não.
- Tá sim, tá dançando aí atrás de você.
- Para.

Mas que droga... Ele era mesmo ruim de jogo. O cara estava lá, dançando, olhando e ele nada. Qual era o problema? Será que ele estava esperando que o cara chegasse junto, apesar de ele demonstrar a todo momento que estava interessado. Era isso que a gente tinha virado, um monte de gente em exposição esperando que alguém se aproximasse e escolhesse? E o nosso poder de escolha, desaparecia? Ser bom no jogo talvez significasse ainda ter um poder de escolha. Não só para escolher com quem você quer ficar, mas também com quem não quer ficar.

Não fui muito além nisso porque meu celular tocou. Era Jennyfher. Deixei Charles dançando sozinho e fui atender.

- Oi.
- Eu vou transar com um cara aqui, mas eu tô menstruada. Você acha que eu devo?
- Cadê você?
- No carro dele.
- E cadê ele?
- Tá dirigindo.
- Ele tá ouvindo tudo?
- Ele não é surdo. Que que você acha?
- Você tem camisinha?
- Tenho.
- Vai fazer alguma diferença se eu disser que você não deve ir?
- Não.
- Então vai.

Ela desligou. Eles transaram. No dia seguinte ela chegou em casa e encontrou o namorado esperando por ela. Ele estava muito arrependido da briga e se desculpou. Chorou. Ela perdoou e tudo voltou ao normal. Jennyfher era mestra no jogo.