Eu estava
encarando o maior pau de borracha que eu já tinha visto na vida, chocado
com a gula e a elasticidade de algumas pessoas e das partes de seus corpos.
- UM cara já
quis comprar esse, sabia? – minha amiga me falou. Ela, ironicamente para todo o
resto do grupo, tinha conseguido um emprego em um Sex Shop. Íamos lá direto e
nos sentíamos em um parque de diversões com todas aquelas possibilidades.
- Não
acredito – eu disse ainda chocando com a monstruosidade do pênis de borracha.
Não estou falando de trinta ou quarenta centímetros. Aquela coisa devia ter
pelo menos um metro de comprimento e era largo também. – Quem tem um cu que se
encaixe nisso?
Tentei
imaginar por um segundo alguém enfiando um metro de rola rabo acima, mas era
grosseiro demais. Nunca fui muito fã de sexo rough, era mais tradicional nesse
sentido. Felizmente, minha amiga já
tinha um bom tópico para desviar meu pensamento daquelas imagens.
- Tô de
namorado novo – ela disse.
- Eu sei.
Você já falou.
Meu grupo de
amigos sempre foi muito precoce, embora não parecesse. Essa minha amiga era um
exemplo. Aos 17 anos deixou a casa dos pais e foi morar junto com um cara. A
casa deles virou nosso quartel general, e íamos lá sempre que queríamos fazer
besteira. Por lá, acompanhei os altos e baixos da história dos dois, e mesmo
nos momentos difíceis aprendi a vê-los como um casal ideal. Então, foi uma
grande surpresa quando descobri que eles tinham se separado.
- Queríamos
coisas diferentes – ela me disse na época. – Ele não estava me ajudando a
crescer, a evoluir.
Apesar de ter ficado triste com o rompimento, não deixei de considerar esse motivo válido, e talvez o mais correto, para se terminar uma relação. A atitude da minha amiga de tomar essa decisão, por outro lado, me surpreendeu. Eu sempre a vi como uma daquelas que segue a filosofia “deixa a vida me levar”, vivendo um dia de cada vez, sem grandes preocupações ou problemas.
Enfim, desde
o fim do casamento, ela começou a aproveitar tudo o que tinha direito. E não
raro, emendava um namorado atrás do outro, com muita facilidade, mas não
empolgação. Eram relacionamentos curtos e não sei se muito produtivos. Eu tinha
conhecido, de ver pessoalmente, um deles. Tinha um outro, que eu sabia só de
ouvir falar, e eu achava que era desse que ela estava falando.
- Não esse.
Outro namorado – ela explicou.
Para alguém que terminou um casamento por falta de perspectivas, ela estava arranjando namorados bem sem futuro. Enquanto falava do novo namorado, minha amiga em nenhum momento demonstrou empolgação ou mesmo paixão. Era quase como se fosse conveniente estar com ele, ou como se ele fosse um dos brinquedos sexuais que ele vendia.
Ainda pensando nisso, comprei com ela um par de dados – que eu sempre quis -, em um dos dados tinha instruções sobre o que fazer, no outro as partes do corpo. Daí, era só você jogar com o parceiro. É muito divertido, posso perder domingos inteiros com esse joguinho.
Peguei o
metrô de volta para casa e não pude deixar de divagar sobre esse troca-troca de
parceiros. Pensei que,
talvez, as pessoas se relacionam com os outros hoje da mesma forma que se
relacionam com os brinquedos eróticos que minha amiga vende no Sex Shop. Era
uma relação primordialmente baseada no prazer, não na emoção. Por isso a troca
de parceiros, sem ressentimentos ou tristezas. É só terminar e procurar outro
brinquedo, dos muitos que estão por aí.
Ao chegar a
essa conclusão, não sei se fiquei triste e desanimado, ou excitado diante de
tantas possibilidades.